sexta-feira, 16 de abril de 2010

02 Neurônio Again and Again

"Ela está almoçando sozinha? Tadinha!

Resolvi almoçar na padoca que vira restaurante no horário do almoço. Como sempre, eu não comi tudo. Quando a moça veio tirar o prato, comentou que eu tinha comido pouco (como vocês sabem, somos um povo muito interativo). “É que veio muita comida”, eu disse. “É, você está sozinha, tadinha”, disse a moça.

Tadinha? Como assim. Eu não estava chorando, estava fazendo frio (o que é bom) e fora a minha enorme tristeza com a tragédia do Rio, aquele era um dia normal. Será que eu estava com cara de coitada? Puxa, mas eu usava meu casaco de neve de Berlin, e estava me achando chique. Tadinha.

Tadinha de mim porque estava almoçando sozinha, em uma sexta feira comum, depois de deixar umas roupas na tinturaria. Isso é uma vida de tadinha? Acho que não. Aí lembrei do óbvio. É porque eu sou mulher (dã). E, como se sabe, no Brasil, mulher não pode almoçar sozinha. Muito menos jantar. Ir para a balada então, nem pensar. Temos que andar em dupla. Ou em bando. Sozinhas, nunca! Só se for para ir na manicure ou no supermercado.

A Jô uma vez foi almoçar sozinha em uma cantina. “Você está esperando alguém?” “Não”, ela respondeu. O garçom ficou com tanta pena que a Jô foi tratada com honras. Virou um tipo de atração de circo. A incrível mulher que almoça sozinha em uma cantina.

Somos coitadas porque trabalhamos com liberdade e não temos que almoçar com o grupinho da firma. Somos coitadas porque não carregamos um homem ou uma amiga do lado quando vamos fazer uma coisa prosaica como almoçar correndo num dia de semana.

Somos tadinhas. Ou atrações de circo. Nós, que só queremos ser moças normais.
(Nina Lemos)"


ps: Ei Nina, trabalho na firma, mas adoro almoçar sozinha e evito ao máximo os grupinhos...

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